segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Diário de Viagens: Chile
Alguns de vocês já leram alguns trechos dessa matéria que escrevi para a Ragga, e algumas das fotos já são conhecidas, mas como o texto saiu apenas um terço do original na revista, resolvi postar na íntegra. Boa leitura!
5435m, Cerro Toco
...Olho no altímetro do meu relógio e ainda faltam o 70m de ascensão até o cume do vulcão Cerro Toco no Deserto do Atacama. Nosso guia Alejandro repete que falta pouco e que o caminho é fácil, mas acima dos 5000m de altitude a falta de oxigênio transforma o menor dos esforços num sofrimento absurdo. A sensação térmica é de -10C, a cabeça explode de dor, os músculos estão exaustos e a vontade de vomitar aumenta a cada passada, me recuso a utilizar o oxigênio artificial por uma simples questão de honra de escalador. Olho para a vista dos milhares de vulcões da região do altiplano e tento recordar como tudo começou, o mundo “real” me parece tão distante...
Ay Dios mio, La gripe!
...Não me lembro do dia exato mas me recordo da notícia : a gripe suína acabava de ser declarada Pandemia mundial e com isso meus planos de viagem mudariam drasticamente. Mães, avós, amigos, o Sr. Ministro da Saúde e pentelhos de plantão sempre tinham advertências pessimistas para malograr a futura viagem. Após uma pesquisa intensa, ponderações e um pouco da filosofia “no risc no fun”, percebemos que com as devidas precauções não haviam motivos para não ir. A grande surpresa foi descobrir que no Chile a Influenza A1N1 não passa de um grande fantasma, que só se faz presente nos frascos de gel anti-séptico nos albergues e nos cartazes em alguns supermercados...
No hay nieve
...Os poucos dias de esqui foram nada menos que insanos, mas as incertezas do tempo e as repercussões do desdenho com que temos frente ao nosso planeta tem encurtado cada vez mais as temporadas desse esporte tão fenomenal e transformam as descidas alucinantes em tombos e quase-tombos de muita tensão no gelo, descobrimos na prática que não é nada divertido esquiar quando no hay nieve...
San “Perro” de Atacama
...O charmoso vilarejo de Sao Pedro de Atacama, na região do deserto mais árido e mais alto do mundo, é mais popularmente conhecida como San Perro de Atacama (para voce que matou as aulinhas de español, perro = cachorro) a cidade é dominada pelos vira-latas, que tomam conta dos bares, barram a entrada em lojas, escoltam turistas e alguns dizem que até podem fazer tours bilíngue . O que não falta na vila são passeios e Mctours no estilo japoneses com câmeras para todos os gostos e a paisagem da região na hora do por do sol lembra Marte.
A tangerina mais cara do mundo!
...em San Perro de Atacama, peguei uma tangerina (ok, roubei em um tour!) e deixei no fundo da mochila, esqueci que lá estava a pequena encrenqueira durante a curta estadia na Argentina. No retorno ao Chile fui um dos “eleitos” para a temida e irritante vistoria de bagagens. Estupidamente, como um bom turista desavisado, declarei que não levava nada orgânico. E por mentir paras as autoridades chilenas, teria que pagar uma simbólica multa de R$ 400,00. Antes de receber a agradável notícia, me deixaram me deliciando com um saboroso chá de cadeira por uma hora após assinar uns vinte formulários assumindo a culpa e atestando que estava consciente da incineração da pobre tangerina. De tempos em tempos o motorista do ônibus aparecia ameaçando ir embora por causa dos vinte e três passageiros que me aguardavam. Quando meu traseiro começava a tomar a forma retangular me chamam para a sala anexa, onde se contra o señor delegado. Após ser xingado e repreendido pela falta imperdoável, expliquei que me esqueci da frutinha minúscula e quase invísivel na mochila, falei que era um repórter da grandiosa Revista Ragga e que estava escrevendo uma matéria sobre o impacto da gripe suína no turismo da região. Como simples reporter não tinha mais dinheiro e a única solução seria que me mandar de volta para Argentina ou me deixar “con una mano a frente y otra atras”. O señor delegado Ricardo Fernades Henrique de la Cunha ficou com dó do amigo brasilero e me deixou ir com um leve puxão de orelha. Nota mental: coma suas tangerinas roubadas!...
Pucón: Apenas o homem de fé passará!
...a famosa frase do clássico filme Indiana Jones e a última cruzada deveria ser regra de lei para todo mochileiro. São nos momentos de maior perrengue, onde tudo parece dar errado, são nessas horas em que as maiores aventuras se apresentam, como uma dádiva ao viajante, somente acessível aos merecedores que acreditam e vão em frente. Filosofias de viagens a parte, chegamos a Pucón para escalar o vulcão Villarica. Como bons desavisados nos esquecemos de um detalhe: checar a previsão do tempo. O que fazer nos dias de frio, neblina e chuva numa cidade de esportes ao ar livre? A decisão lógica seria fazer as malas e retornar a Santiago, a nossa foi fazer um rafting insano pelas intrépidas e geladas corredeiras do Rio Trancura (não, ele não tem nada de tranquilo, minha bunda que o diga ao acertar uma pedra durante uma vaca)...
Mochila nas costas, próximo destino?
...o conceito de mochileiro cria um grande mito no imaginário das pessoas, de aventureiros destemidos, com suas mochilas, percorrendo grandes distâncias. Em grande parte verdade, mas no fim a cargueira de 75L pesava 26kg e a mochila de fotos nada menos que 12,5kg. Salvo o caso do Hulk, carregar esse trambolho somado às compras se torna uma aventura pela sua simples execução, mas a vontade de explorar e conhecer é sempre maior, supera qualquer contratempo ou imprevisto, e quem já foi sabe, viajar é nada menos que viciante...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
A foto que está aqui de vcs no bote conseguiu ficar mais engraçada que a do orkut!!
Postar um comentário